Onde há Gato não há Rato

Adoptar é assumir um dever, não satisfazer um impulso
Adoptar um animal é um acto de responsabilidade profunda e duradoura. Não é um gesto impulsivo, nem uma solução fácil para preencher um vazio emocional, satisfazer um desejo momentâneo de uma criança ou adquirir uma “prenda barata”. Um animal não é um objecto, nem um comprimido emocional que se toma quando se precisa e se descarta quando deixa de servir.
Uma adopção irreflectida é, quase sempre, sinónimo de sofrimento para o animal — mais cedo ou mais tarde. A realidade mostra-nos isso todos os dias. Pessoas sem emprego estável, com recursos financeiros muito limitados, com contratos de habitação frágeis ou situações de vida instáveis decidem adoptar sem ponderar as consequências. Outras devolvem ou abandonam animais porque mudaram de companheiro, engravidaram, vão mudar de casa ou sair do país. Há ainda quem ignore, durante anos, que familiares idosos acumulam animais e, apenas quando chega a ida para um lar ou a morte, considere que cabe às associações — já sobrelotadas — “resolver o problema”.
Em muitos destes casos, o sofrimento dos animais parece ser um detalhe irrelevante. A compaixão, quando existe, é mínima ou inexistente. As justificações para descartar ou abandonar um animal são inúmeras, mas importa dizê-lo claramente: descartar um animal é abandonar. Sempre.
É verdade que a vida traz imprevistos. Nem tudo pode ser controlado. Mas a facilidade com que tantos animais são descartados revela uma falta de reflexão individual e uma falha colectiva enquanto sociedade. “Adopte com responsabilidade” não pode ser apenas um slogan repetido por quem tem animais para adopção. Tem — e deve — ser uma reflexão profunda, honesta e empática, antes de qualquer decisão.
Adoptar implica compromisso: garantir alimentação adequada, cuidados veterinários, tempo, atenção, segurança e respeito pelo bem-estar do animal ao longo de toda a sua vida. Dói saber que animais resgatados com tanto esforço e carinho acabam adoptados por quem lhes dá a pior ração do mercado, os ignora no dia-a-dia e reduz o seu bem-estar a uma palavra vazia.
Ser humano é ser consciente. É ser responsável. É ter empatia por quem depende totalmente de nós. Os animais são inocentes. Não escolhem quem os adopta, nem compreendem as razões pelas quais são abandonados. Cabe-nos a nós, enquanto indivíduos e enquanto sociedade, fazer melhor.
Adoptar é um acto de amor — mas só quando vem acompanhado de responsabilidade, consciência e respeito

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